Em junho de 2022, levei duas turmas para as primeiras expedições fotográficas na Amazônia organizadas e lideradas por mim. Na segunda delas participou a Elise, minha amiga e aluna do Lama budista Padma Samten, assim como eu. Nos conhecemos, aliás, num grupo de estudos do CEBB há alguns anos atrás e ambos somos colaboradores da revista Bodisatva (eu bem mais eventual do que ela), onde esse ensaio foi publicado recentemente.
Esta expedição subiu o Rio Negro a partir de Manaus até o arquipélago de Anavilhanas, um parque nacional formado por mais de 400 ilhas. Fomos na época das cheias, o que nos proporcionou a experiência de fazer trilhas aquáticas numa lancha e contemplar a mágica floresta inundada e sua rica fauna. Este ano, em novembro, iremos fazer uma nova expedição para o Amazonas, mas dessa vez na época das secas, quando o rio revela suas praias de areias brancas. Veja mais detalhes de como participar clicando aqui.
Abaixo as fotos e texto da Elise Bozzetto
“Algumas experiências são difíceis de absorver, tanto mais colocar em palavras. A Amazônia foi uma delas. Ficamos 5 dias morando em um barco, refugiados no quieto, negro e imenso Rio Negro. Junho, época das cheias, a floresta descansa embaixo da água. Navegávamos pela copa de árvores, brincando de exploradores do mar de verde que se colocava diante de nossos olhos. E como enchia os olhos aquele mar. De beleza e de lágrimas, pois a conexão escorre quando não encontramos outras formas de absorver tanta imensidão.
É tanto verde, é tanta exuberância que não dá para entender como aquilo tudo segue de pé sob um solo arenoso, pobre e frágil. A botina, na pouca terra firme onde ficamos antes de imergir na floresta inundada, voltava cheia de areia para nossa casa, nosso barco. Deve ser algum tipo de mágica. É mágico, extraordinário, como diz o Lama Padma Samten, meu professor.
Uma noite, ficamos na lancha, no meio do rio. Em silêncio, apenas os sons da Floresta contavam histórias. Fitávamos o céu estrelado, sem interferência da poluição luminosa. Não havia outra luz a não ser as que vinham das estrelas (era lua nova, grande mérito para vivermos aquele momento). E quantas estrelas! Nunca vi tantas. Não imaginava que o céu era tão cintilante. Meus olhos vertiam aquilo que eu simplesmente não conseguia guardar dentro de mim. A água do Rio Negro, de repente, estava em mim também e, sob aquele céu, de certa forma, eu me senti pó de estrela, de todas aquelas estrelas.”
Texto e fotos: Elise Bozzetto