Tembi’u eteí, comida de verdade

Dia 17 de agosto iniciou a campanha Tembi’u Ete’i, comida de verdade. Esta campanha está sendo promovida pelo Instituto Caminho do Meio Canelinha (do qual Zé Paiva é presidente) em parceria com o CEPAGRO, uma ONG que promove a agroecologia em Santa Catarina.

O objetivo da campanha é arrecadar R$20 mil para comprar todo excedente da produção agroecológica de 4 aldeias Guarani da Grande Florianópolis: Tekoá Vy’a, Tekoá Yguá Porã, Tekoá Porã e Tekoá Itanhaém. Todas elas tem apoio do CEPAGRO para sua produção agroecológica, na forma de sementes, ferramentas, adubo e orientação.

Estes alimentos serão doados para cinco cozinhas solidárias em Florianópolis, que através de trabalho voluntário, atendem moradores de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar.

Se você quiser apoiar ou saber mais sobre o projeto visite a página do Apoia.se, a plataforma através da qual estamos captando. Se puder compartilhar com sua rede de amigos também será muito meritório!


Família Renz

A convite da Mútua – Rede de Reciprocidade fui conhecer a propriedade agroecológica da Família Renz, em Cerro Grande do Sul. O dia não podia ser mais lindo, aquela luz de inverno, baixa e quente. A hospitalidade da família também não podia ser maior, mesmo em meio a pandemia nos receberam, sem abraços e beijos, mas com o calor dos olhares e os sorrisos por trás das máscaras.

A história da família na agroecologia tem 5 anos e foi deflagrada a partir de um câncer da Laura, esposa do Carlos. A partir daí eles decidiram abandonar o uso dos venenos na agricultura que praticavam pois, além de prejudicar os que ingeriam os alimentos, tinha causado a doença. No vídeo abaixo Carlos conta um pouco dessa história de vida emocionante.

Quarentena contemplativa

Passei os primeiros 40 dias da quarentena (literalmente) em Viamão, no Rio Grande do Sul, no centro budista CEBB Caminho do Meio. Lá, tive a oportunidade de acompanhar o trabalho da Mútua Rede de Reciprocidade. A Mútua começou com projetos de educação ambiental nas escolas de Porto Alegre, introduzindo o conceito de alimentação saudável através de hortas e feiras agroecológicas. Aos poucos, começou a entregar cestas de orgânicos em casa e agora, com a quarentena, viu as entregas crescerem vertiginosamente.

Claro que, em parte, o motivo é as pessoas não quererem sair de casa. Mas acho que o desejo de uma alimentação mais saudável também deve ter sido um fator importante. Em tempos de pandemia, a imunidade é uma preocupação.

Isso me fez refletir sobre as mudanças que estamos vivendo. O fato de ficarmos mais em casa, talvez esteja fazendo muitas pessoas refletirem sobre suas vidas e sobre os caminhos que a humanidade está tomando. O reflexo disso começou em pequenas ações, como cartazes nos prédios de pessoas se oferecendo para fazer compras para os seus vizinhos idosos. Agora, tenho visto reflexos em maior escala.

Na visão budista podemos ver os obstáculos como oportunidades.

Um exemplo vem da Holanda, onde um grupo de 170 acadêmicos propõe uma política de decrescimento baseada em 5 pontos: adotar um modelo econômico que não seja baseado no PIB, redistribuição de renda, agroecologia, redução de consumo e cancelamento de dívidas. Veja mais detalhes aqui.

Outro exemplo interessante vem da França, que está criando um fundo de 20 milhões de euros para dar 50 euros a cada pessoa que queira consertar sua bicicleta, além de criar mais ciclofaixas e ciclovias. Eles estão pensando na saúde dos cidadãos, pois assim farão exercício enquanto se locomovem, diminui a aglomeração nos metrôs e também como uma forma de diminuir a poluição na cidade. Veja mais aqui.

Na visão budista podemos ver os obstáculos como oportunidades. Talvez essa pandemia seja uma grande oportunidade de repensarmos todos nossos valores como sociedade e assim construir um futuro mais verde para todos.

Filhos de Sepé

A agricultura convencional baseada em agrotóxicos e insumos químicos domina o mundo. Em 2013, a média de consumo no Brasil foi de 7,6 litros de veneno/pessoa/ano, segundo a ABRASCO*. A agricultura orgânica (predominantemente familiar) ocupa apenas 940 mil hectares das terras no Brasil, enquanto a agricultura convencional usa 240 milhões de hectares. No entanto o Brasil é o país onde a agricultura orgânica mais cresce no mundo: 30% ao ano!

Sementes crioulas do seu Tisott no Assentamento Filhos de Sepé, Viamão, Rio Grande do Sul.

No final de fevereiro tive a alegria de visitar três produtores agroecológicos no assentamento do MST Filhos de Sepé, em Viamão RS. Este assentamento foi criado em 1998 numa área de 9.450 hectares que abriga 376 famílias. Esta área fica dentro da APA (área de proteção ambiental) Banhado Grande, com 133.000 hectares.  Dentro do assentamento, foi criada pela SEMA (Secretaria do Meio Ambiente do RS), em 2002, uma unidade de conservação chamada Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, com 2.543 hectares. Ali, além de habitarem várias espécies de aves e o jacaré-do-papo-amarelo, é a única região do Rio Grande do Sul onde ainda encontra-se o cervo-do-pantanal.*

Na primeira visita fomos à um mutirão para a colheita artesanal de arroz negro orgânico, na propriedade de Huli Zang. O MST no Rio Grande do Sul é hoje em dia o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, sendo que o assentamento Filhos de Sepé é a maior área contínua de plantio de arroz orgânico. Nas outras duas visitas, estivemos nas propriedades do seu Tisott e da dona Nilza, que cultivam várias espécies de plantas.

Nestas visitas, aprendemos que a agricultura agroecológica não é apenas um sistema que não usa venenos nem insumos químicos. Na verdade, é um estilo de vida, no qual o agricultor vive e produz em harmonia com a natureza. Apoiar a agroecologia, consumindo sua produção através das feiras ecológicas e outras iniciativas, pode ser um caminho não só para melhorar nossa saúde, mas também para construir um novo modelo de economia e de sociedade mais justa e ecológica.

*Fonte:  Dissertação de mestrado de Ricardo Diel – Gerenciamento de recursos hídricos: um estudo de caso no assentamento Filhos de Sepé – UFSC 2011

Tupambaé – o forum da dignidade

De 21 a 27 de outubro aconteceu em Viamão RS o Fórum Tubambaé – que em guarani siginifica coisa de Deus. Foram mais de 12 palestras e mesas redondas, com mais 70 palestrantes e convidados abordando temas sócio-ambientais. Durante o evento houveram também apresentações artísticas e oficinas para crianças e adolescentes. Nos últimos três dias do evento aconteceu em paralelo uma feira com produtos agroecológicos, artesanais, tecnologia sustentável, sementes e arte. Vejam abaixo algumas imagens do evento, que terá sua segunda edição em junho de 2020.

Segundo o sítio do evento, este nasceu “por iniciativa do Instituto Caminho do Meio, IFRS, COPERAV, AGAPAN, IRGA, Emater, em parceria com a Prefeitura e Câmara Municipal de Viamão, e apoio de mais de 20 entidades, o Fórum Tupambaé é uma realização conjunta com diversos atores sociais. Temos como valores básicos a agroecologia, a cultura de paz, a dignidade e a auto-organização. Neste momento histórico, a humanidade está cansada de viver relações agressivas, baseadas em pensamentos sectários e opositores. É o momento de termos vivências sem violência e mais compassivas. Não temos inimigos.”