Mais um belo lançamento da Editora Terra Virgem, do meu amigo e grande fotógrafo Roberto Linsker (confiram o blogue dele, vale a pena). Este livro é o quarto da série Tempos do Brasil, uma coleção que trata da história natural e ocupação humana de algumas das regiões mais interessantes do Brasil. A abordagem é feita em três tempos: o tempo geológico – medido em milhões de anos – conta a história da formação da paisagem do lugar; o tempo biológico – medido em milhares de anos – conta a história da vida naquele mesmo lugar; e finalmente, o tempo humano – medido em séculos – que relata a ocupação desta paisagem. Isto tudo é feito de modo científico e didático, tornando a informação interessante e recheada de belas fotos. Os outros títulos da série foram sobre Fernando de Noronha, Chapada Diamantina e Itatiaia.
Neste livro, onde além de fotos encontram-se textos, diagramas, mapas, ilustrações antigas, tudo para contar bem contada a história da paisagem do sul do Brasil, tenho o prazer e a honra de participar com 30 imagens que estão entremeadas às belíssimas imagens do Roberto. Confiram que vale a pena.
Rio Canoas ao luar, Urubici, Santa Catarina. Foto de Zé Paiva - Vista Imagens
“Afinal, todo parque é uma declaração de amor à paisagem e a tudo que nela existe: a flora e o vento, a fauna e a neblina, a chuva e ao brilho do sol, a sutil luz da lua, o silêncio das estrelas e o barulho das águas.” (extraído do livro)
O Parque do Rio Vermelho está localizado em Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, entre a Barra da Lagoa e os Ingleses. Protege uma das poucas praias desertas da ilha, a do Moçambique. Deserta no sentido de que não tem construções, pois está dentro de um parque. Durante muito tempo este parque se chamava Parque Florestal do Rio Vermelho, e era administrado pela CIDASC, um orgão do governo ligado aos agronegócios. Isso talvez explique porque a área serviu, há alguma décadas, para um experimento de plantio de pinus (pinheiro americano) e eucaliptos. Na época a vegetação nativa da planície, chamada de restinga, foi suprimida e foram plantados milhares de árvores exóticas dos EUA e da Austrália. Graças a isso o local foi transformado num parque. O pinus, além de ser exótico e não deixar crescer nada embaixo, ainda por cima é considerado o maior contaminante biológico do planeta, pois suas sementes se espalham num raio de mais de quinze quilômetros. Aqui na ilha, por exemplo, elas chegam a voar até as dunas da Lagoa da Conceição, que também estão dentro de um parque, e crescer no meio da areia. Muito recentemente o Parque do Rio Vermelho foi transformado num parque estadual, para enquadrar-se no SNUC e no SEUC, sistemas nacionais e estaduais de unidades de conservação, que regulamentam a proteção das áreas naturais em Santa Catarina. Agora o Parque Estadual do Rio Vermelho, PERV, é administrado pela FATMA, Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina.
Capa do informativo #2
O Instituto Lagoa Viva, uma ONG de Florianópolis, aprovou no Ministério do Meio Ambiente um projeto para realizar um diagnóstico e uma proposta de zoneamento desta unidade de conservação, que vai, entre outras coisas, estudar como substituir os pinus e eucaliptos pela vegetação nativa. Sou colaborador voluntário deste projeto, que é coordenado pelo Professor Francisco Ferreira,do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano da Universidade Federal de Santa Catarina (Gipedu). Recentemente fiz algumas fotos aéreas do parque que foram usadas no segundo número do informativo deste projeto, que acaba de sair. O projeto gráfico e direção de arte é do meu filho, Maurício Paiva.
Lagartinho-da-praia, personagem criado por Maurício, inspirado no animal homônimo, que está ameaçado de extinção, mas foi encontrado no Parque Estadual do Rio Vermelho.
Quem ainda não viu, veja! É imperdível. Tem em DVD na maioria das locadoras. Eu já vi 4 vezes e estou pensando em ver uma quinta, pois cada vez eu apreendo coisas novas. A fotografia é ótima, a trilha do Eddie Vedder (vocalista do Pearl Jam) é primorosa, o roteiro e direção do Sean Penn (sim, ele mesmo, o ator oscarizado pelo papel do politico gay em Milk) é de mestre. Dêem uma olhada no trailer e depois confiram na íntegra. Ainda por cima o filme é cheio de citações dos escritores que inspiraram o personagem do filme, como Emerson Thoreau, Lord Byron e outros. A história é inspirada em fatos reais e conta a saga de uma rapaz que após graduar-se com méritos na Universidade abandona tudo e vai para o Alaska em busca de seu sonho, viver na natureza selvagem.
Depois de mais uma aula de fotografia de natureza para o excelente Curso Avançado de Fotografia Digital da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em Porto Alegre, dei uma entrevista para a Luiza Piffero, que faz o blog da Escola de Criação da ESPM. Confiram e aproveitem para ver o que os criativos da nova geração estão aprontando. O blog vale a pena! Boa leitura!
Parece que o pessoal da revista “Viagem e Turismo” da Editora Abril gostou mesmo da matéria “A casa vai junto”, publicada no especial “Austrália e Nova Zelândia” mês passado, pois este mês está nas bancas uma versão ampliada da mesma matéria, com direito a mini-guia e tudo, na revista mãe. O nome agora é” Tem canguru na estrada…”
Pra matar a curiosidade, dessa vez vou publicar uma foto que saiu na matéria, lógicamente é a que mais gosto (o Farol de Sugarloaf Point), e uma outra que foi escolhida a melhor foto do especial “Austrália e Nova Zelândia”, numa seção chamada de Click, que fica na última página da revista. Essa as meninas vão achar uma foto “fofa” (um filhote de canguru). De lambuja mais duas color que não sairam e nem sairão. Carpe diem!
Farol em Sugarloaf Point, Myall Lakes National Park, New South Wales, Australia. Canguru filhote em Diamond Head, Crowdy Bay National Park, New South Wales, Australia. Seal Rocks, Myall Lakes National Park, New South Wales, AustraliaDiamond Head, Crowdy Bay National Park, New South Wales, Australia
O grande mestre Walter Firmo deu o ar da graça ontem a noite em Florianópolis. Veio lançar seu último livro: Brasil – imagens da terra e do povo, uma obra de 340 páginas que celebra os seus setenta anos cumpridos em 2007. O livro é uma coleção das melhores imagens dos mais de cinquenta anos de carreira deste que é uma dos maiores fotógrafos brasileiros em atividade. O livro foi organizado por Emanoel Araújo, diretor-curador do Museu Afro Brasil, que também assina a apresentação. Para o “fotógrafo-mascate” Walter Firmo, “a imagem não pode ser neutra e o poder do olhar deve influenciar as pessoas porque o ato de fotografar tem que ser político e não um mero acaso instantâneo”.
Capa do livro de Firmo.
“Walter Firmo é um desses gênios da fotografia brasileira. Seu olhar iluminado, magnético, tem a rapidez do repórter e o refinamento do artista. Seu clique sempre alcança a magnitude da cena e os diferentes temas abordados por ele aparecem como obras antológicas neste álbum que festeja seus setenta anos de vida”, revela Emanoel Araújo.
O evento aconteceu estúdio do fotógrafo Claudio Brandão e foi organizado pelas meninas do Duoarte, Lucila e Lu Renata. Abaixo alguns instantâneos da noite.(fotos de Lu Renata)
Zé Paiva, Firmo e Francine Canto (poeta e fotógrafa)Zé e Walter num troca-troca de livros.
A ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em sua filial de Porto Alegre oferece um dos melhores cursos de fotografia do Brasil – o curso avançado de fotografia digital profissional. Trata-se de um curso de extensão de um ano. Na primeira parte são estudadas com profundidade questões como colorimetria e sensitometria entre outras. Na segunda parte do curso são oferecidas master-classes com diferentes fotógrafos, cada um na sua especialidade, tais como: fotografia de arquitetura com Leopoldo Plentz, de culinária com Clóvis Dariano, autoral com Orlando Brito, só para citar alguns. O coordenador do centro de fotografia da ESPM, que administra não só este curso como todas as disciplinas de fotografia ministradas nos diferentes cursos superiores da escola é o brilhante fotógrafo Manuel da Costa. A estrutura do centro impressiona: estúdio com equipamento de última geração e luz natural (com direito a uma clarabóia com controle remoto), salas repletas de Imacs, além de uma equipe super profissional.
No inicio deste ano tive o prazer e a honra de ser convidado para ministrar a master-class de fotografia de natureza. Aqui mostro algumas fotos das duas primeiras turmas, tanto do making-off como algumas que eu mesmo fiz nas nossas saídas a campo, ambas no Parque Estadual de Itapuã, em Viamão RS.
Eu e os alunos no Parque de Itapuã - foto de Fernanda Coelho
Eu e os alunos no Parque de Itapuã - foto de André GrossBromélias no alto da trilha da Fortaleza no parque de Itapuã, foto de Zé Paiva.
Entardecer no Lago Guaiba, Parque Estadual de Itapua, Foto de Zé Paiva
Depois que vi o trailer de Garapa, o novo filme-documentário do diretor José Padilha, fui investigar o problema da fome no mundo e fiquei pasmo. Segundo a ONU chegamos na marca de 1 bilhão de pessoas que passam fome no mundo, ou seja, quase uma de cada seis pessoas passa fome. Vivemos tão imersos na nossa realidade cotidiana que não nos damos conta que somos uma minoria distante de uma outra realidade, a dos que passam fome. No Zâmbia por exemplo, 47% da população está abaixo da linha da pobreza.
Alguns dias depois por acaso assisti na TV por assinatura um filme francês chamado “99 francos” (baseado em um livro de Frédéric Beigbeder, que foi redator na Young & Rubicam de Paris) . O filme mostra a vida de um redator publicitário de uma grande agência francesa, envolto em drogas, festas, egos enormes (inclusive o seu), até ele perder um amor e experimentar um fracasso profissional. A partir dai sua vida começa a mudar drasticamente. No final do filme uma frase diz que no mundo se gasta mais de 500 bilhões de dólares com publicidade por ano e que 10% seria suficiente para resolver o problema da fome. Fui novamente pesquisar e descobri que o número estava absolutamente correto. Talvez 10% não resolva o problema da fome, mas ajudaria bastante. Com certeza deve ser maior do que o PIB de muitos paises pobres. É só um exemplo, deve-se gastar muito mais do que isso com armamentos. Conclusão: a nossa sociedade está doente, muito doente, para conviver com tamanhos absurdos.
O grande fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, que já havia nos deleitado com o livro “A terra vista do alto” agora nos brinda com um documentário longa-metragem simplesmente maravilhoso. Além de belíssimas imagens aéreas de vários lugares do mundo um roteiro primoroso que prende do início ao fim. Mas não se iludam com a minha descrição pois o filme é muito mais do que isso, ele mostra também toda a destruição e desequilíbrio que causamos no planeta. Breve deve sair em DVD. Passou quase desapercebido no cinema infelizmente. Imperdível!
Dicas: o filme está em HD, dá pra ver em tela cheia com boa qualidade mas tem que assistir no site do youtube (clique no meio da janela abaixo). Infelizmente só tem com legenda em inglês. Bom filme!
Abaixo transcrevo o excelente texto do grande fotógrafo e amigo Luiz Carlos Felizardo publicado na revista Aplauso nº 95 de 2008, na sua coluna Imago, sobre o meu livro “Natureza Gaúcha” (Editora Metalivros) e sobre o livro “Porto Alegre – cenas urbanas, paisagens rurais” de Eurico Salis. Boa leitura!
Travessa dos Venezianos, foto de Eurico Salis.
Dois livros foram lançados há pouco, um de Eurico Salis (Porto Alegre — Cenas Urbanas, Paisagens Rurais), outro de José Luiz Martins Paiva, o Zé Paiva ( Natureza Gaúcha). Ambos são belas edições, bem produzidas e acabadas, o do Zé Paiva feito em São Paulo, o do Eurico por aqui mesmo, com qualidade equivalente (o que mostra que nossa indústria gráfica vai bem, obrigado). Ambos os trabalhos demonstram dedicação extrema aos assuntos que abordam, não apenas pelo fôlego e competência com que cobrem áreas extensas, mas pela qualidade das fotografias que os compõem.
Mas existe algo além das fotografias que os destaca e atiça minha curiosidade: há uma mesma cidade e uma região na raiz dos dois trabalhos — o Eurico é de Bagé, começou lá a fotografar, e o Zé, que vive em Santa Catarina, mesmo tendo nascido em Porto Alegre está ligado a Bagé por suas duas famílias e por incontáveis férias de infância vividas por lá, na fronteira com o Uruguai.
A mesma região está presente nas raízes de Leonardo Costa, outro fotógrafo bageense, autor das capas da primeira Isto É. E eu mesmo, nascido e criado em Porto Alegre, sempre atribuí ao tempo passado em Bagé, na fazenda em que vivia meu padrinho, o início da minha paixão pela paisagem, pelos grandes espaços e pelo silêncio das coisas. Não por acaso, das sete fotos do ensaio que publiquei no 1º Almanaque Socioambiental, sobre a região do pampa, cinco nasceram em Bagé. Nem é acaso que minha exposição Querência tenha sido produzida, predominantemente, nos campos e galpões de Bagé.
Dunas no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, foto de Zé Paiva.
Quê diabos tem essa cidade para que sua influência tenha gerado tantos fotógrafos (e artistas, como se verá)? Como é que uma região estigmatizada pela “grossura” gaúcha pode produzir tanta gente sensível? A incongruência aparente já rendeu a figura do notável Analista de Bagé… Se nosso olhar for um pouco mais amplo, saberemos que, em 1948, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Glênio Bianchetti, os três bageenses, constituíram o Grupo de Bagé, consolidado mais como o Clube de Gravura de Bagé. Do grupo também participou o ótimo, nunca suficientemente lembrado Avatar Moraes – bageense do Rodeio Colorado. A Danúbio, se atribui a frase “Quando eu viajava para Bagé, de trem, via os pessegueiros em flor — e via Van Gogh.”, que pode servir de pista para que se comece a compreender um pouco do mistério. Glênio, com quem acabo de conversar por telefone, anda faceiro com o restauro dos espaços da antiga vila de Santa Tereza (que conheci muito bem quando menino), que incluem a capela – que abrigará uma nova obra dele — criando em Bagé mais um espaço cultural.
Mas não se pára por aí: o hoje fotógrafo Leopoldo Plentz foi casado com uma bageense e fez lá sua primeira exposição (de desenhos e gravuras), também de Bagé é o fotógrafo Cacalos Garrastazú, e Artur Poester, fotógrafo (irmão da Teresa, artista bem conhecida, também presente nos resultados do restauro de Santa Tereza) casou com Helena, filha do Severino Collares, sujeito fantástico, misto de estancieiro, anfitrião de artistas, incentivador do Grupo de Bagé e das artes em geral – todos, desnecessário dizer, bageenses. Um dos bageenses mais bageenses que eu conheço, o grande arquiteto (portanto artista) Nelson Saraiva, morava, quando criança, a poucas casas de um dos avós do Zé Paiva – e, como ele, vive há muitos anos em Florianópolis. Ou seja, fecha-se o círculo das coincidências.
Coincidências? Só pode achar que a relação entre Bagé e as artes situa-se nesse terreno quem deixar de ler o excelente texto de Rualdo Menegat (O DNA da paisagem) que introduz o livro do Zé Paiva, onde ele diz: “A identidade de cada pessoa é indissociável da paisagem e do lugar onde nasceu.” Só pode considerar coincidência essa relação tão estreita quem desconhecer as idéias de Pedro Nava, cujas palavras foram usadas como epígrafe de minha exposição Querência:
“Essa áreas, não posso chamar de pátria, porque não as amo civicamente. O meu sentimento é mais inevitável, mais profundo e mais alto porque vem da inseparabillidade, do entranhamento, da unidade e da consubstanciação. Sobretudo, da poesia… Assim, onde é que já se viu um pouco d’água amar o resto da água? Se tudo é água… Essa é a minha terra. Também ela me tem e a ela pertenço sem possibilidade de alforria. Do seu solo, eu como. Da sua água, eu bebo. Por ela serei comido”.
Por Luiz Carlos Felizardo, publicado na revista Aplauso nº 95 de 2008.